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domingo, 27 de maio de 2012

"Rock-me" e "Luar e Serena: O Casamento"


A arte de revolucionar: Temporadas teatrais de “Rock-me” e “Luar e Serena: O Casamento”

Diogo Braz

A arte é transformadora, revolucionária! Quando realmente tocadas pela arte, as pessoas podem mudar totalmente a maneira de perceber o mundo ao redor. Assim é com o Teatro, arte de encenar. Para “brincar” de ser outros personagens, o ator necessita de sensibilidade para perceber, criar e passar uma mensagem ao público. E assim o público deve entender o Teatro, como veículo de mensagens, igualmente revolucionário e transformador.
O Espaço Cultural Linda Mascarenhas, aparelho cultural do Instituto Zumbi dos Palmares (IZP), vem buscando trabalhar o Teatro dessa forma, encarando-o não somente como opção de entretenimento, mas como uma ferramenta de transformações sociais. Abrindo suas portas para que companhias e grupos ensaiem e montem suas peças em pequenas ou médias temporadas, o Espaço Linda tem como filosofia apoiar espetáculos, peças ou qualquer outro tipo de manifestação que trabalhem com os aspectos menos comerciais da arte, e que possam deixar para o público um resultado eventualmente transformador na vida das pessoas que pelo teatro possam ser tocadas.

Logomarca do Espaço Linda já mostra sua afinidade com o Teatro

Os exemplos mais recentes desse modus operandi são as montagens “Luar e Serena: O Casamento”, da Companhia Teatral Simsenhô, e “Rock-me”, do grupo Infinito Enquanto Truque (IET).

Luar e Serena: O Casamento

            Ambientada no Sertão, a peça conta, por meio de uma linguagem leve e descontraída, a história de Luar, um rapaz namorador que deixa todas as mulheres de lado para dedicar sua paixão a Serena, moça cuja beleza também é objeto de desejo do valente Tempestade, fora da lei que inspira medo por onde passa. O texto também traz outros personagens como a primeira-dama perua e volúvel da cidade, o prefeito enganado, a filha espevitada dos dois, o amigo malandro do herói, o fantasma do avô da mocinha e um padre mulherengo. Figuras caricatas que passeiam numa trama cheia de confusões e frases espirituosas. “Esse foi o primeiro texto que eu escrevi e ele foi totalmente baseado numa história romântica do Nordeste, algo que pudesse transmitir muita alegria, muitos risos, escrito com o pensamento de fazer as pessoas sorrirem”, revelou o diretor e autor do espetáculo, Adaílton Moreira. A peça ficou em cartaz em uma curta temporada, nos dias 20 e 27 de maio, com quatro espetáculos, sendo dois por dia.

Cia Teatral Simsenhô em foto de divulgação do espetáculo

Luar e Serena é o resultado do trabalho desenvolvido pelo professor Adaílton Moreira junto com alunos do Colégio Gilvana Ataide Cavalcante Cabral no projeto Tempo Integral, que oferece ao alunado uma série de atividades extracurriculares, como esportes e atividades artísticas. A própria Companhia Simsinhô nasceu do projeto, há dois anos, e reúne hoje vinte e dois integrantes. Só na peça Luar e Serena, participam 14 atores, que se dividem em dois grupos, um para cada sessão do dia. “Nós temos vários membros que fazem regra três. Então, a gente pegou esse pessoal e colocou na primeira sessão do dia e os titulares na segunda apresentação, pra não deixar ninguém de fora”, explicou o diretor. “O pessoal da primeira apresentação, na estreia, teve de mostrar trabalho, um belo espetáculo, para garantir que eles se apresentassem novamente no segundo dia. Foi um teste e eles foram aprovados, com certeza”, elogiou o professor.

Bom humor com sotaque nordestino - Foto de Diogo Braz

O público compareceu e prestigiou o trabalho dos atores iniciantes, que se saíram bem, com desenvoltura merecedora de aplausos nas quatro sessões. “Eu gostei, os meninos se saíram muito bem. Essa é uma iniciativa muito boa, porque proporciona espaço para novos atores. E a gente precisa apoiar os atores da terra para que nosso Teatro tenha mais força”, elogiou o repórter cinematográfico Jacinto Branco.
Para os atores, o resultado de um ano de ensaios foi bem satisfatório. Ao som dos aplausos, eles parecem ter a certeza de que o Teatro tocou as suas vidas, revolucionando sua maneira de lidar com o mundo. “O Teatro mudou muita coisa na minha vida. É interessante porque hoje eu me conheço mais profundamente e tenho contato com outras pessoas através da arte, e a arte em si vem tomando conta das nossas vidas”, explica Caroline Mendonça, que interpreta Serena.

Casal apaixonado de protagonistas - Foto de Diogo Braz

Para Adaílson Santos, que interpreta Luar, o Teatro trouxe mais alegria para sua vida. “Mudou o modo da minha alegria, ele me deu mais liberdade. Antigamente eu era bem tímido, mas hoje em dia, através do Teatro, eu sou bem extrovertido. Não tenho mais vergonha de ninguém”, revela o jovem ator. Para Liza Lobato, que interpreta a mulher do prefeito, a arte de interpretar lhe deu mais confiança. “O Teatro mudou muita coisa. Eu me tornei mais confiante, perdi a vergonha e o medo de me expressar em público. Hoje eu tenho mais certeza do que eu quero”, afirma a jovem.

Aventuras descontraídas do Sertão brasileiro- Foto de Diogo Braz

No final da noite, o trabalho exibido no palco foi coroado com a aprovação do público e do professor, que elogiou os alunos por todo o processo de montagem da peça. “Montar este espetáculo com os alunos está sendo uma experiência maravilhosa, porque eu gosto muito de trabalhar com jovem, com a comunidade, com a periferia e gosto também de trabalhar com estudantes. Esta é a minha primeira experiência do tipo, mas eu garanto que é a melhor experiência da minha vida; tirando jovens da marginalidade, de pensamentos promíscuos, resgatando vidas das drogas: hoje eu estou particularmente realizado neste trabalho”, revela Adaílton Moreira.

O Casamento - Foto de Diogo Braz


Os interessados em conhecer mais sobre o trabalho da Cia Simsenhô, pode acessar a página do grupo no Facebook:


Rock-me

            Recém-estreado, no sábado passado, o espetáculo do Grupo Infinito Enquanto Truque é mais um belo exemplar da dramaturgia de Lael Correa. Com texto livremente adaptado da peça “Hoje é dia de Rock”, do mineiro José Vicente, Rock-me é um exercício de Teatro para pessoas que buscam a reflexão acima do entretenimento.

Rock n' Roll em cena - Foto de Diogo Braz

Mesmo com os problemas técnicos de sonoplastia acontecidos na estreia – e mesmo sendo uma peça que tem a música, a trilha e os efeitos sonoros como fio condutor de sua narrativa – o IET conseguiu mostrar um texto inteligente sobre o impacto das revoluções culturais trazidas pelas ondas do rádio em uma família sertaneja desde a década de 1950 até o início de 1970.
Os atores Bruno Alves, Cid Brasil, Dinah Ferreira, Monica Dogati, Paula Gomes, Ticiane Simões, Wagner Santos e Walfredo Luz estão muito bem em cena; há um entrosamento que é fruto de longos ensaios e de sensível direção de atores, o que faz com que o público não sinta, por exemplo, estranheza ao ver a jovem Ticiane Simões interpretar a mãe de cinco atores em sua mesma faixa etária fora dos palcos. Sobre o tablado não, cada um tem a idade de seus personagens. Os atores também encarnam pessoas em diferentes épocas de suas vidas e é possível notar isso na mudança dos gestos, que vão amadurecendo no decorrer do espetáculo.

IET e seus atores iluminados - Foto de Diogo Braz

O fervilhar dos personagens, representado ao mesmo tempo em que interage com o Rock – estilo musical que é essencialmente rebeldia – está bem caracterizado nos dilemas da família: as questões existenciais; a dúvida entre o sagrado ou o profano; os impulsos sexuais; a falta de identificação com o mundo ao redor, seja entre os próprios membros da família ou em relação à sociedade e sua época; um turbilhão de questões que são mais sugestões que a própria solução de problemas, isso é tarefa reservada para o público, que é quem busca encontrar os seus próprios sentidos e identificações com o que foi encenado na peça. Longe de ser um drama existencial, a Rock-me propõe essa reflexão de forma até mesmo descontraída, num texto repleto de momentos alegres, juvenis.

Atores em meio ao público - Foto de Diogo Braz

Ao final do espetáculo, aplaudido de pé, o grupo se desculpou pelos problemas técnicos e agradeceu ao parceiro de realização, o Instituto Zumbi dos Palmares, e ao público, que não pareceu ter se influenciado pela falha técnica. “A peça foi maravilhosa, mesmo sabendo que os integrantes do grupo estão meio tristes pelo problema da sonoplastia. Mas, para mim, isso não tirou o brilho não, foi maravilhoso”, elogiou o ator Andrey Stefani. Para a estudante de Jornalismo Bruna Cabral, os problemas atrapalharam, mas não comprometeram a apresentação. “Eu achei que os defeitos técnicos tiraram um pouco do feeling da peça, mas mesmo assim foi incrível. A trilha sonora é muito boa, pra quem quer curtir um pouquinho de Rock n’ Roll e ver uma história de décadas tão importante para a história do Rock, é muito bom”, avalia Bruna.

Dilemas universais de uma família sertaneja - Foto de Diogo Braz

Nivaldo Vasconcelos, membro do Cineclube Ideário, também elogiou a montagem. “A peça é muito legal, tem uns jogos de cena muito interessantes, a iluminação tem efeitos bem legais, os atores estão ótimos. A direção é massa, tem uns truques, umas brincadeiras. E a música vale a pena. Venham assistir!”, convida o cineclubista.
Membros da Companhia Teatral Simsenhô – que estava em cartaz no Espaço Linda Mascarenhas com a peça “Luar e Serena: O Casamento” – não perderam a oportunidade de prestigiar a estreia de “Rock-me” e trocaram figurinhas com os atores do IET. Para a atriz Rafaela Maria, todos em cena desempenharam bem os seus papéis. “Eu gostei muito da peça, os atores estão de parabéns. O elenco é ótimo, nem estavam nervosos. Foram atuações lindas, eu achei perfeito”, elogiou a atriz.

Aplausos recíprocos entre atores e público - Foto de Diogo Braz

A peça Rock-me ficará em cartaz até o final de julho, sempre aos sábados, no Espaço Cultural Linda Mascarenhas. As sessões serão às 20 horas e, ao contrário da estreia, as próximas sessões não serão gratuitas. Os ingressos serão vendidos no próprio Espaço Linda Mascarenhas. Mais informações: 8887-8795; 8800-1087 ou 8826-6626.

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