Ads 468x60px

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Entrevista: Naara Normande

Pérola de reportagem
Naara Normande fala sobre seu primeiro livro e a grande reportagem

Diogo Braz

Naara Normande é uma jovem e talentosa jornalista nascida em Manaus, radicada em Maceió, residindo atualmente em Salvador. No seu processo de especialização profissional, encantou-se pela grande reportagem e a adotou como estilo favorito de escrita. Mantendo o olhar sensível à realidade das pessoas comuns, Naara revela verdadeiras pérolas de histórias de vida em seu primeiro livro "Entre uma ostra e outra: histórias de vida dos ostreicultores de Alagoas”, que será lançado nesta terça (09.10.2012), às 20 horas, no Espaço cultural Linda Mascarenhas. A jornalista falou em entrevista exclusiva para o Blog do Linda Mascarenhas sobre o seu processo de escrita e muito mais. Vale a pena conferir:

Naara, este é seu primeiro livro, resultado de sua pesquisa de especialização em Comunicação Jornalística. Como nasceu o interesse em pesquisar e escrever sobre a vida dos ostreicultores?
Inicialmente, pensei em temáticas relacionadas aos mares e lagoas, que tão bem representam nosso estado. Como o turismo, a pesca e captura de sururu já tinham sido retratados em publicações e também na mídia local, procurei por outras atividades ligadas a esses ecossistemas. Sabia da existência desse projeto de ostras na Barra de São Miguel, mas não tinha ideia da dimensão. Na apuração das informações, vi que existiam muitos investimentos, capacitações e uma mobilização crescente em torno dos cultivos de ostras em Alagoas. Quando fui conhecer os cultivos percebi que ninguém ainda tinha parado para ouvir e registrar como era o dia a dia daqueles produtores: a rotina de trabalho, as dificuldades e as esperanças de uma vida melhor. E então decidi que mostraria o lado que poucos conhecem.

Naara e o talento para contar histórias - Foto de acervo da autora


Em tempos de microblogs, onde as pessoas parecem ter pressa e pouca disposição para leitura, por que você escolheu o formato de grande reportagem para contar essa história? Você acredita que o "micro texto" é uma tendência e que isso influencia de alguma forma na maneira de contar histórias, inclusive nas grandes reportagens?
A grande reportagem é o formato jornalístico que mais me encanta. No TCC da graduação na UFAL escrevi uma grande reportagem sobre a presença dos estudantes africanos em Alagoas, mas eu  tinha muita vontade de escrever um livro reportagem onde seria possível aprofundar, detalhar e problematizar ainda mais um tema. Acredito que o prazer pela leitura é a questão central. É muito bom se envolver em uma narrativa, independente se o suporte dela é impresso ou digital. Agora, claro, na web e nos suportes móveis como os tablets e smartphones temos outros recursos que nos auxiliam para contar as histórias de uma maneira ainda mais atraente. E não acredito que o micro texto influi na grande reportagem, são propostas diferentes. Considero que essas "pílulas" de textos estão mais relacionadas as informações que os usuários precisam em tempo real, seja para saber dados sobre o trânsito, um jogo de futebol ou o que houve de importante na cidade e no mundo naquele momento.    

Como essa vivência com os ostreicultores te tocou pessoalmente; qual a pérola mais preciosa que você extraiu dessa experiência?
Para escrever o livro, tive contato com mais de vinte ostreicultores de quatro cultivos (Maceió, Barra de São Miguel, Passo de Camaragibe e Coruripe). Conversávamos nos cultivos, nas casas dos produtores e também na sede das associações. Apesar da ostra ser o ponto em comum, foi interessante perceber as diferenças em cada cultivo que visitei: a forma como os grupos se organizam, o apoio que recebem, a visibilidade que possuem. Mas foi uma produtora de Ipioca, a Dona Célia, a que mais me cativou. Ela é uma senhora amargurada com a vida, de palavras muito fortes, mas encara tudo com muito humor e com uma espiritualidade que impressiona. 


Olhar atento á realidade ao redor - Foto de acervo da autora


Pode-se dizer que você, que nasceu em Manaus, cresceu em Maceió, especializou-se em São Paulo e agora mora em Salvador, pôde observar realidades, costumes e culturas diversos. Quais são os elementos das histórias dos ostreicultores alagoanos que lhes tornam universais, ou pelo menos semelhantes às histórias de outros "Brasis" que você conviveu?   
Esses ostreicultores, assim como vários outros trabalhadores, enfrentam dificuldades relacionadas à inadequação das políticas públicas, como a falta de moradias adequadas, saneamento básico, educação, saúde, e ainda assim persistem com a esperança de melhoria da qualidade de vida. Claro que muitos produtores desistiram devido à falta do retorno financeiro, mas, de maneira geral, os grupos vêm tentando resistir porque é o trabalho que possuem, além de ser um local a mais para a convivência de vizinhos e familiares.

Como você enxerga o mercado editorial para as grandes reportagens?
Acredito que ainda há muito espaço a conquistar, principalmente o apoio de editoras e interessados na viabilização dessas publicações. Cabe a nós procurarmos temas que sejam relevantes e abordá-los de uma maneira diferenciada. Em relação às produções, hoje temos vários livros reportagens, a maioria elaborados por estudantes de Jornalismo, e também obras referências como as de Caco Barcelos e Eliane Brum. 
  
Pergunta clichê, mas ainda necessária: Quais as dificuldades enfrentadas para se publicar um livro em nosso país, principalmente em Alagoas?
Em relação ao apoio para publicação desse livro, não tenho o que reclamar. O Sebrae e a Edufal, parceiros do livro, se interessaram pela temática e possibilitaram a concretização do material, do financiamento à revisão editorial. A maior dificuldade foi enfrentar todo o processo burocrático, mas também porque foi minha primeira experiência. Espero agora a parte mais importante da publicação do livro: o retorno do público. 


0 comentários:

Postar um comentário